Artigos do jornalista Paulo Rocaro

TALENTO AMADURECIDO



Certo dia, depois de muita indignação por conta das agressões que eu via contra a natureza, em meio a um debate acalorado entre amigos, surgiu a idéia de se fundar uma entidade que pudesse ter voz em defesa do meio ambiente. Nascia, há dez anos, a Sodema (Sociedade de Defesa do Meio Ambiente) em Ponta Porã. É uma entidade que tem uma bela missão, mas depende da iniciativa de cada membro da sociedade. Nesse período, o grupo que deu origem à ONG (organização não-governamental) conheceu muita coisa, aprendeu muita coisa. Recentemente tivemos a grata satisfação de conhecer a artista plástica Maria Bonita Rodrigues Georges, de quem sempre ouvimos falar, mas nunca havíamos tido contato. A conhecemos pela arte e por detalhes essenciais na vida em sociedade: a paixão pela natureza. As virtudes desta artista não se limitam às suas criações, de rara beleza. Elas extrapolam em exemplo quando se percebe que além de amar a vida, Maria Bonita se preocupa com as próximas gerações, conciliando isso com a arte, com ênfase à conservação da nossa mais nobre riqueza: o meio ambiente. O emergente sucesso parece não afetar sua criatividade, seu dom de reciclar. Num mundo cada vez mais globalizado, em que quem sabe muito sobre determinado assunto ou domina alguma área, guarda tudo a sete chaves e retém informação, nos chama atenção a simplicidade e espírito solidário de Maria Bonita, quando faz questão de ensinar, repassar suas idéias de reciclagem, seus conhecimentos, para que aqueles que vivem ao seu redor tenham chance de mudar de vida. Poucos têm este espírito de doação, de preocupação com o semelhante. Esta pontaporanense dá lições de caridade, mostra que tem a arte no sangue e no coração. Tanto que sua família é quem mais a admira e respeita. Isso vem de berço, de criação. Sua mãe, apesar de autodidata, foi uma verdadeira artista plástica sem nunca ter freqüentado uma universidade nessa área. Quando era pequena, Maria Bonita não tinha uniforme para ir à escola, mas sua mãe improvisou com uma bolsa de farinha. Tingindo e desfiando, em pouco tempo a roupa estava pronta. Ela levou esse exemplo para a escolinha da dona Antônia Capilé, onde tinha aulas de arte. Não deixava de aproveitar nada. Até galhos de árvore secos viravam obras de arte em suas mãos. Com retalhos fazia lindos arranjos de flores. Foi pintando, reciclando e dando forma às suas obras que Maria Bonita percebeu o sentido da vida, de defender a natureza, que tanto precisa de todos nós. Assim como esta artista descobriu na arte a força de Deus, qualquer pessoa pode aproveitar a força interior e a criatividade que existe dentro de si. As lições não param por aí, como ela própria faz questão de lembrar. Em primeiro lugar, tem Jesus no coração; em segundo, gosta de si e se preocupa com o próximo; em terceiro, tem a arte em seu âmago. Assim como Maria Bonita descobriu seu talento, qualquer pessoa pode descobrir o seu, afinal, sempre existe alguma coisa que a gente pode fazer muito bem, o que nos torna donos de talentos especiais. Essas iniciativas são fundamentais para que as famílias saiam da rotina, deixem de fazer sempre a mesma coisa. Pintar, reciclar, criar bonitos arranjos e ‘n’ coisas são ações baratas nos dias atuais, de dinheiro curto. Renove sua casa, dedique um cantinho para suas obras de arte (sejam quais forem). Isso certamente levantará a auto-estima e trará muitas alegrias e paz. Pode-se dizer que isso é como um chamado pela vida, em prol da natureza e do futuro dos nossos filhos, netos e bisnetos. É preciso valorizar até um parafuso, pois ele pode se transformar numa bela obra de arte, como esta senhora já nos provou ser possível. Será que não poderíamos ganhar a vida fazendo algo assim? Se alguém duvida, é porque ainda não se deu conta do exemplo que Ponta Porã tem dado ao mundo.

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